Vicios da Linguagem

Todo julgamento exige um critério, um padrão[1]

Uma coisa é bonita porque nós temos um padrão de beleza: uma coisa é falsa porque temos um padrão de verdade e essa discorda dele. Assim também, para se falar em erro ou correção gramatical dentro de uma língua, é preciso recorrer a um padrão, um modelo, um critério.

A finalidade essencial de uma língua é a comunicação... entre os membros de uma comunidade que se serve dela. Para isso é necessário que o instrumento(a língua) tenha certa uniformidade e, assim sirva eficientemente a toda a comunidade.

Toda sociedade humana precisa, portanto, de uma linguagem normal de que todos se sirvam, quer falando, quer escrevendo. E até pensando. A correção consiste na obediência a este padrão ou critério lingüistico. Se ele fosse constantemente uniforme, permanente e sem discordância, não haveria os problemas de todos os dias. Mas um padrão lingüistico de correção é somente um ideal, não uma realidade concreta e nem pode ser fixo e muito menos fossilizado.

Há alguns fatores que perturbam a tranqüilidade de um critério lingüístico de correção

1 - Um fator individual: cada um usa e manipula a língua segundo seu modo e para os seus fins, que ultrapassam o fim primordial da comunicação. Assim, cinco marceneiros, cada um usa da mesma plaina, para o mesmo fim, de modos diferentes: cada um, do seu jeito.

 E o indivíduo é naturalmente indisciplinado e rebelde às imposições e às normas que o prendem e lhe limitam as liberdades, verdadeiras ou falsas.

2 - Um fator coletivo: embora a língua seja a mesma, os que a usam são diferentes. E se classificam em três camadas culturais:

a) a camada inferior: as massas mais ou menos analfabetas usam de uma língua popular, pobre e rudimentar, sempre utilitária.

b) a camada média ; uma cultura com o mesmo adjetivo. São pessoas já atingidas pelos benefícios da instrução primária e secundária, pessoas que lêem, não só por necessidade, mas por gosto e interesse;

c) a camada superior: representa a língua média entre o que se fala e o que se escreve, uma língua usual, quotidiana mais a língua das melhores obras literárias

Uma língua-padrão recebe contribuições de baixo, de cima e do meio, mas se fixa e se torna padrào de acordo com as camadas superiores, culturalmente superiores. Entra, agora, em ação, um elemento disciplinante, uniformizador, aparentemente estático e conservador, realmente dinâmico e renovador, móvel, vivo e atual: a disciplina gramatical.

A gramática não nasce abstratamente da cabeça do gramático, nem de conchavos ou de estudos feitos em escrivaninhas, alheados da realidade. A gramática ausculta, observa, registra a língua das camadas superiores. E a ratifica com padrão de correção lingüística. Uma gramática viva que acompanhou a língua portuguesa do século XVI e acompanha a língua do século XX ; uma gramática portuguesa de Portugal e uma gramática brasileira da Língua Portuguesa.

Se a gramática nasce assim, torna-se um critério de correção lingüistica. É correto o que está de acordo com a gramática; é errado o que está em desacordo; Indiretamente é correto ou errado o que estiver de acordo ou em desacordo com a língua das camadas culturais superiores.


E... o que procura uma gramática com padrão de correção lingüistica?

1- A maior eficiência da língua com instrumento de comunicação, através do seu domínio fácil e geral.

2- A possível uniformidade entre todos os membros tão desiguais de uma sociedade humana: uniformizar é mais do que conservar; É preservar

3- Uma língua que seja um instrumento fácil, acessível, útil, apto e que sirva a todas as camadas da sociedade sem ser retrógrado, desatualizado, emperrado.

4- O aperfeiçoamento da mesma língua, consagrando aqueles melhoramentos que lhe dão as camadas cultas, ratificando ou retificando as contribuições das outras camadas, salvando a língua da desagregação e da morte.

5- Adquirir ou conservar aquelas qualidades fundamentais, indispensáveis a uma língua

a) a clareza;

b) a racionalidade;

c) a exatidão

d) a concisão

e) a expressividade;

f) a beleza...

Ou, resumindo num única conclusão: a sua perfeição.

Postar um comentário

0 Comentários