Simplificando a Ortografia e o ensino


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Artigo publicado no Caderno Opinião do Correio Braziliense em 02 de junho de 2014

A princípio pode parece simples, mas está longe de ser. A língua portuguesa possui inúmeras regras de composição de palavras, acentuação e uso de letras. Para dificultar, são incontáveis as exceções e os desvios inexplicáveis. Encontrar quem saiba usar hífen, j, g, x, ch, s, z, por exemplo, é algo raro. Até professores, cidadãos com notório saber e autoridades acadêmicas precisam recorrer constantemente a dicionários ou corretor ortográfico para confirmar como se escreve uma palavra ou outra, de tão complexo que é o nosso sistema. Acrescente-se aí, ainda, a diversidade de grupos culturais nos países que têm o português como língua oficial, cada um com suas características regionais. Chegar a um resultado que facilite ao máximo o aprendizado da escrita e a intercomunicação desses falantes é um desafio a ser vencido.

Notoriamente há um desconhecimento de determinados aspectos da realidade ortográfica atual e dos benefícios que a simplificação de algumas regras pode trazer aos países de língua oficial portuguesa e aos seus povos. Engana-se quem pensa o contrário e, felizmente, o governo brasileiro atentou para a importância de prorrogar a implementação das novas regras, criando oportunidade de, num esforço conjunto, especialistas, professores, estudantes e a sociedade civil como um todo, contribuírem com sugestões para tornar a ortografia mais simples, objetiva e lógica.

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal, após ter recebido vários sinais de alerta, realizou duas audiências públicas (em 2009 e 2012), convidando as autoridades responsáveis pelo encaminhamento do Acordo Ortográfico e representantes das opiniões críticas repercutidas na sociedade, perante Senadores como Cyro Miranda, Ana Amélia, Cristovam Buarque, Lídice da Mata, Paulo Bauer Flávio Arns, Marisa Serrano e Augusto Botelho. Nas duas oportunidades, ficou evidente a necessidade de se trabalhar pela melhora de alguns pontos, motivo pelo qual solicitou e obteve, via audiência com a Ministra Gleisi Hoffmann, que a Presidência da República adiasse o prazo de implantação definitiva das novas regras para 1º de janeiro de 2016. Em seguida, criou o GTT - Grupo de Trabalho Técnico, com o objetivo de reunir sugestões simplificadoras - coordenado por dois professores de português que participaram ativamente das audiências públicas. A sociedade civil, por meio do CELLP - Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa - e do www.simplificandoaortografia.com, está divulgando e recebendo sugestões de simplificação.

Não se trata de posicionamento contra o Acordo Ortográfico, mas existe a consciência de que algumas de suas regras (como o uso de certas letras, o hífen, os acentos de pára/para, fôrma/forma) continuam dificultando e encarecendo o ensino. Levantamento feito por professores da Fundação Educacional do Distrito Federal indicam o gasto de 400 horas/aula com ortografia, do ensino fundamental ao médio, para decorar muito e aprender quase nada. É nesse interregno que nasce o desânimo e a crença de que português é muito difícil, criando o bloqueio gerador do analfabetismo funcional e causador do fato de que apenas 20% da população pode ser considerada plenamente alfabetizada. Esses mesmos professores calcularam que, com a simplificação de algumas regras, a ortografia seria ensinada mais eficazmente com apenas 150 h/a, 250 h/a a menos, o que representa uma forte economia de tempo e dinheiro (R$ 2 bilhões/ano).

E mais: levando-se em consideração que a simplificação de certas regras faz com que se aprenda ortografia com praticamente um terço do tempo e com muito mais facilidade, pode-se prever uma forte redução nos índices de analfabetismo e na taxa de rejeição ao estudo da língua, simultaneamente fortalecendo a inclusão social. E ainda: a quantidade de cidadãos plenamente alfabetizados (capazes de ler e produzir textos mais profundos), que constitui apenas 20% da população, pode vir a ser multiplicada por dois, três, quatro ou cinco.

Isso significa dizer que na mesma proporção crescerá o número de leitores e autores, permitindo uma produção literária, intelectual, científica jamais vista, criando saber e riqueza suficientes para colocar estrategicamente nossos povos e países em estágio muito superior de respeito e influência internacionais.

 

 

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