Iracema: análise literária da obra de José Alencar
Romance indianista de José de Alencar, Iracema foi publicado no ano de 1865. A obra faz parte do romantismo brasileiro e apresenta a história de amor entre uma índia e um guerreiro branco.
Escrito em prosa poética, o enredo conta com a presença de elementos mitológicos, indígenas e históricos do início de 1600. O livro compõe o indianismo, que foi um movimento relacionado à primeira fase do romantismo no Brasil.
Personagens principais de Iracema
Os personagens principais da obra Iracema são:
- Iracema: protagonista que deu origem ao título da obra. É uma índia da tribo dos tabajaras.
- Caubi: irmão de Iracema, também é um índio da tribo tabajara.
- Araquém: pai de Iracema e Caubi, ele é o pajé da tribo tabajara.
- Andira: velho guerreiro da tribo tabajara e irmão de Araquém.
- Martim: português que se tornou amigo dos índios potiguaras e foi batizado com o nome de Coatibo.
- Irapuã: chefe dos guerreiros da tribo tabajara, apaixonado por Iracema e inimigo de Martim.
- Moacir: o primeiro brasileiro miscigenado, filho de Martim e Iracema.
- Poti: amigo de Martim e herói dos índios potiguaras.
- Jacaúna: irmão de Poti e chefe dos guerreiros potiguaras.
- Japi: cão de Martim.
- Batuirité: avô de Poti e Jacaúna. Pessoa que teve a visão sobre os portugueses que destruiriam o seu povo.
Resumo de Iracema
Iracema é uma obra que retrata a história de amor entre uma índia Tabajara e um colonizador europeu. No entanto, José de Alencar usa essa narrativa para representar o processo de colonização do Brasil e da América. Além disso, o autor valoriza o elemento indígena nacional por meio da linguagem selvagem, aproximando os leitores do movimento indianista.
O enredo se passa no Brasil colonial, durante os primeiros anos da colonização europeia, e se inicia com Martim, português encarregado de colonizar a região atual do Ceará. É nesse momento que ele se depara com Iracema, uma índia da tribo tabajara, que se banha no rio.
Contudo, a índia, citada na obra como "a virgem dos lábios de mel", se assusta com a presença de Martim e acerta uma flecha que o fere. Arrependida de seu ato, Iracema leva o branco guerreiro até a sua tribo, a fim de ajudá-lo.
Martin na terra dos Tabajaras
Já aos cuidados dos tabajaras, Martim aprende a língua nativa e se torna amigo de Poti, considerado o rei da tribo. Assim, vai surgindo um amor entre Iracema e o branco guerreiro, porém ambos sabem que o relacionamento entre eles é proibido por uma série de questões, como as diferenças culturais e a luta entre os índios e colonizadores europeus.
Para evitar que se relacionem, Martim sugere que Iracema lhe dê o vinho de tupã, o qual provoca efeitos alucinógenos, para que pudessem se imaginar juntos apenas uma vez. Entretanto, a índia se entrega verdadeiramente ao amado e esse fato no livro faz referência à invasão dos portugueses no Brasil, que gerou a destruição da natureza.
José de Alencar retrata a colonização por intermédio de Iracema, que perde a sua identidade indígena, assim que é tocada por Martim. O mesmo processo ocorre no Brasil, que é transformado durante a colonização. Em outras palavras, o autor usa do romance e fantasia, para ilustrar a realidade.
Irapuã x Martin: a briga pelo amor de Iracema
Durante a trama, Irapuã, o chefe da tribo tabajaras, se apaixona por Iracema e se torna o principal inimigo de Martim. Assim, Irapuã tenta matar Martim diversas vezes, mas não consegue. Além dessa rivalidade, a obra também apresenta o conflito entre as tribos tabajaras e pitiguaras.
Durante um desses embates entre as tribos, Martim e Iracema decidem abandonar tudo e viver em uma cabana. Assim, a índia deixa de lado sua tribo e suas tradições, menos Poti, que segue a vida junto ao casal.
Nesse período, a gravidez de Iracema é revelada e a índia dá à luz a Moacir. No entanto, o nascimento ocorre enquanto Poti e Martim estão fora, lutando. Quando retornam, infelizmente já não há o que fazer. Iracema, muito debilitada, acaba morrendo e é enterrada no "pé do coqueiro, à beira do rio". Local conhecido posteriormente como Ceará.
Martim se muda do Ceará com o filho, representando pelo autor, a primeira emigração de um cearense. Contudo, retorna mais tarde com outros brancos e um sacerdote para plantar cruz na terra selvagem. Ato este que, José de Alencar retrata como processo de colonização.
Estilo literário de Iracema
A obra Iracema faz parte do Romantismo, movimento literário que teve origem na Alemanha, no século XIX, e espalhou-se pelo mundo. No Brasil, o movimento iniciou em 1836, com a obra "Suspiros poéticos e saudades" de Gonçalves de Magalhães.
Dividido por três gerações, o romantismo dispunha de características e temas bem diferentes. Iracema foi escrita na primeira geração, inspirada pelo forte nacionalismo e indianismo.
Análise literária de Iracema
Com a idealização do índio como herói e um excesso de sentimentalismo, Iracema, escrita em terceira pessoa e de narrador onisciente, apresenta um romance repleto de elementos da natureza e representação de fatos históricos.
A obra está ambientada no Brasil, no ano de 1600, e mostra os colonizadores em luta pela conquista do novo território. José de Alencar usa diferentes metáforas e comparações por meio de um enredo em forma de poesia com ritmo e aliteração.
Além disso, a melodia verbal da história, repleta de descrições de imagens e cores, ajudam o leitor a contrastar a história com o espaço geográfico em que ela se passa.
Qual a mensagem que o livro Iracema passa?
Iracema é a representação da índia submissa à cultura europeia, e seu nome é um anagrama para a América. Já Martim, é a referência do guerreiro branco colonizador e conquistador com seu nome relacionado a Marte, o deus greco-romano da Guerra.
O romance entre os dois simboliza a lenda da criação do Ceará, conhecido por "canto da jandaia". Uma vez que Iracema é enterrada em um coqueiro no qual sua ave de estimação, Jandaia, cantava em lamento a sua morte.
Além disso, o bebê do fruto do relacionamento entre o casal, tem o nome de Moacir, cujo significado é "filho do sofrimento". A frase representa o primeiro cearense e a concepção da nacionalidade brasileira que se deu pela união da indígena com o colonizador.
Adaptação no cinema da obra de Iracema
Em 1979, Iracema ganhou as telas do cinema, numa adaptação que ganhou o título de "Iracema, a virgem dos lábios de mel", e foi dirigida por Carlos Coimbra, o também roteirista da história. No entanto, a versão cinematográfica não foi muito bem aceita pelos críticos, pois erotizou a figura da índia, além de enfraquecer a personagem.
A remodelação de Iracema fez com que ela perdesse o protagonismo nas cenas nas quais precisava se posicionar perante aos personagens masculinos. No filme, a índia se mostra passiva e submissa, enquanto, no livro, é ela quem tem o domínio na maioria das cenas.
Quem foi José de Alencar?
Nascido em 1829 no Ceará, José Martiniano de Alencar foi dramaturgo, jornalista, romancista, crítico e político. Filho do presidente da província do Ceará, Alencar se mudou para o Rio de Janeiro ainda criança e também passou parte de sua vida em São Paulo, lugar onde cursou a Faculdade de Direito e publicou seus primeiros textos.
No entanto, se mudou para Pernambuco, local onde concluiu o curso em 1848 e teve seu primeiro contato com obras de outros cronistas da época. Em 1850, Alencar retornou a São Paulo para tratar de uma tuberculose e foi para o Rio de Janeiro exercer a profissão de advogado.
Contudo, em 1854, passou a escrever pequenas crônicas no jornal Correio Mercantil e se tornou editor-chefe no jornal Diário do Rio, carreira que abandonou devido a sua inserção na política. Alencar atuou por quatro legislaturas seguidas como deputado do Ceará pelo Partido Conservador, porém não conseguiu ser senador.
Assim, voltou a escrever, publicando seu primeiro romance em 1856, intitulado de "Cinco Minutos". Já em 1956 iniciou a publicação de "O Guarani" em folhetins, o que o tornou conhecido pelos leitores.
José de Alencar foi um dos maiores representantes do romantismo brasileiro, ligado ao nacionalismo e ao indianismo, pois se preocupava com a consolidação da cultura do país. Escreveu diversos romances e ainda produziu peças para o teatro, abordando a política e a diplomacia.
O dramaturgo faleceu em 1877, sendo considerado um dos maiores autores de sua época, elogiado, inclusive, por Machado de Assis.
Principais obras de José Alencar
Dentre as suas obras, podemos destacar:
- O Guarani, 1857.
- Cinco minutos, 1857.
- A viuvinha, 1860.
- Iracema, 1865.
- A pata da gazela, 1870.
- O Garatuja, 1873.
- Ubirajara, 1874.
- Senhora, 1875.
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